quinta-feira, 5 de março de 2009

05 de Março de 2009 - CENTENÁRIO DE PATATIVA DO ASSARÉ - CANTADÔ


Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como PATATIVA DO ASSARÉ, (Assaré/CE, nascido em 05 de março de 1909) foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro. Uma das principais figuras da poesia oral nordestina do século XX. Por volta dos vinte anos recebe o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave. Patativa viaja para Belém do Pará, e para Macapá (Amapá) onde apresentava-se como violeiro. Volta para o Ceará para trabalhar na terra, indo constantemente à Feira do Crato onde participava do programa da rádio Araripe, declamando seus poemas. Numa destas ocasiões é ouvido por José Arraes de Alencar que, convencido de seu potencial, lhe dá o apoio e o incentivo para a publicação de seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, de 1956. Este livro teria uma segunda edição com acréscimos em 1967, passando a se chamar Cantos do Patativa. Em 1970 é lançada nova coletânea de poemas, Patativa do Assaré: novos poemas comentados, e em 1978 foi lançado "CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ". Os outros dois livros, “ISPINHO E FULÔ” e “AQUI TEM COISA”, foram lançados respectivamente nos anos de 1988 e 1994. Foi casado com Belinha, com quem teve nove filhos. Faleceu em 08 de julho de 2002, na mesma cidade onde nasceu.

Deixemos para o próprio poeta contar a sua passagem por este mundo como Patativa do Assaré:

"AUTOBIOGRAFIA DE PATATIVA DO ASSARÉ

Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui, no Sí­tio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Meu pai, agricultor muito pobre, era possuidor de uma pequena parte de terra, a qual depois de sua morte, foi dividida entre cinco filhos que ficaram, quatro homens e uma mulher. Eu sou o segundo filho.

Quando completei oito anos, fiquei órfão de pai e tive que trabalhar muito, ao lado de meu irmão mais velho, para sustentar os mais novos, pois ficamos em completa pobreza. Com a idade de doze anos, freqüentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor. Saí­ da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não freqüentei mais escola nenhuma, porém sempre lidando com as letras, quando dispunha de tempo para este fim. Desde muito criança que sou apaixonado pela poesia, onde alguém lia versos, eu tinha que demorar para ouvi-los. De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras de noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam.

Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim.

Quando eu estava nos 20 anos de idade, o nosso parente José Alexandre Montoril, que mora no estado do Pará, veio visitar o Assaré, que é seu torrão natal, e ouvindo falar de meus versos, veio à nossa casa e pediu à minha mãe, para que ela deixasse eu ir com ele ao Pará, prometendo custear todas as despesas. Minha mãe, embora muito chorosa, confiou-me ao seu primo, o qual fez o que prometeu, tratando-me como se trata um próprio filho.

Chegando ao Pará, aquele parente apresentou-me a José Carvalho, filho de Crato, que era tabelião do 1o. Cartório de Belém. Naquele tempo, José Carvalho estava trabalhando na publicação de seu livro “O matuto Cearense e o Caboclo do Pará”, o qual tem um capí­tulo referente a minha pessoa e o motivo da viagem ao Pará. Passei naquele estado apenas cinco meses, durante os quais não fiz outra coisa, senão cantar ao som da viola com os cantadores que lá encontrei.

De volta do Ceará, José Carvalho deu-me uma carta de recomendação, para ser entregue à Dra. Henriqueta Galeno, que recebendo a carta, acolheu-me com muita atenção em seu Salão, onde cantei os motes que me deram. Quando cheguei na Serra de Santana, continuei na mesma vida de pobre agricultor; depois casei-me com uma parenta e sou hoje pai de uma numerosa famí­lia, para quem trabalho na pequena parte de terra que herdei de meu pai. Não tenho tendência polí­tica, sou apenas revoltado contra as injustiças que venho notando desde que tomei algum conhecimento das coisas, provenientes talvez da polí­tica falsa, que continua fora do programa da verdadeira democracia.

Nasci a 5 de março de 1909. Perdi a vista direita, no perí­odo da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por Dor-d’olhos.

Desde que comecei a trabalhar na agricultura, até hoje, nunca passei um ano sem botar a minha roçazinha, só não plantei roça, no ano em que fui ao Pará.

ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA, Patativa do Assaré."




sábado, 24 de janeiro de 2009

A VIOLA - OS VIOLEIROS DO BRASIL (LIVRO E DVD)





VIOLA: Instrumento popular surgido no século 13 e que os portugueses trouxeram para o Brasil em suas primeiras viagens, a viola se alojou especialmente no interior do país mantendo a característica que trouxe do berço: traduzir em música as alegrias e tristezas do povo.
VIOLEIROS DO BRASIL - Livro e DVD: Com mais de trinta anos dedicada à produção e pesquisa em música brasileira, a produtora cultural Myriam Taubkin lançou o livro e o DVD Violeiros do Brasil, projeto que concebeu e realizou, onde expõe em textos e imagens preciosidades do universo da viola e de onze de seus mais destacados instrumentistas.


Os extraordinários praticantes da viola retratados no livro e DVD são: Adelmo Arcoverde, Almir Sater, Braz da Viola, Ivan Vilela, Passoca, Paulo Freire, Pena Branca, Pereira da Viola, Roberto Correa, Tavinho Moura e Zé Mulato & Cassiano.


O livro e o DVD Violeiros do Brasil poderão ser adquiridos, juntos ou separadamente, no site:
Também podem ser encontrados nas principais livrarias e lojas de cds/dvds do país.


O livro Violeiros do Brasil tem prefácio da grande Inezita Barroso, fotos de Angélica Del Nery, coordenação editorial de Adriana Amback e Myriam Taubkin, projeto gráfico de Teresa Maita e Roberta Asse, produção de Luana Gorayeb. O livro também presta um serviço aos interessados no assunto: lista em verbetes e contatos os violeiros e luthiers em atividade no Brasil, uma pesquisa de Rafael Marin. São 238 páginas no formato 25cm x 18cm, impresso em cinco cores.




O DVD Violeiros do Brasil tem fotografia, edição e direção de Sérgio Roizenblit; entrevistas por Myriam Taubkin, Sérgio Roizenblit e Angélica Del Nery; som direto, gravações e mixagem por Clement Zular, Áudio Portátil; projeto gráfico da capa e encarte: Teresa Maita e Roberta Asse; assistente de produção: Daniella Rubio; produção e administração: Luana Gorayeb. O DVD tem 144 minutos de duração. Edição bilíngüe com encarte e legendas em inglês.


HOJE A PROSA É LONGA, MAS PELA IMPORTÂNCIA DO MESTRE É UM GRÃO DE AREIA - RENATO ANDRADE


“Sertão, o senhor querendo procurar, nunca encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem”. (Guimarães Rosa)


Retirado de: Paragon Brasil



"Nasceu no dia 28 de agosto de 1932, na cidade de Abaeté (MG) 28/8/1932 Abaeté, e foi para o Rio de Janeiro na década de 1970, iniciando a carreira artística já com 36 anos de idade quando musicou e participou como codjuvante do filme “Corpo fechado”, de Schubert Magalhães. Apresentou-se interpretando concertos de Edino Krieger, Guerra-Peixe e Francisco Mignone. Em 1977, lançou seu primeiro disco solo “A fantástica viola de Renato Andrade”, no qual interpretou, de sua autoria, as obras “Seriema no campo”, “Prelúdio da inhuma”, “Literatura do cordel”, “Sagarana”, “Bailado catrumano”, “Sinhá e o diabo”, “Relógio da fazenda”, “Viola e suas variações”, “Folia de Reis”, “O jeca na estrada”, “Mutirão”, “Casamento na roça”, “Amor caipira”, e “Corpo fechado”.

Sua técnica dominava diferentes afinações da viola caipira, como o cebolão (a mais comum), a rio abaixo e a de guitarra. Apresentou-se em shows em todo o Brasil e também realizou diversas turnês em outros países. Em 1979, lançou o LP “Viola de Queluz”, que assim como o primeiro disco, também saiu pela Chantecler. Nesse LP, interpretou “Viola de cego”, “Ballet na roça”, “O capangueiro”, “Viola de Queluz”, “Moto perpétuo caipira”, ” Urupês”, “Senhores da terra”, e “Raízes ibéricas”, todas de sua autoria, além de “Veredas mortas”, com Tupy, e as clássicas “Tristezas do jeca”, de Angelino de Oliveira, e “Luar do sertão”, de Catullo da Paixão Cearense. São diversos os projetos culturais e musicais de que participou, como o “Instrumental no CCBB”, que foi registrado em CD e outros, pelo SESC, como o “Violeiros do Brasil”, em que se apresentou em diversas cidades brasileiras, ao lado de Roberto Corrêa, Almir Sater, Braz da Viola, entre outros.

Em 1984, lançou pelo selo Bemol o LP “O violeiro e o grande sertão: A viola que vi e ouvi” no qual interpretou 13 composições de sua autoria: “Fogueiras”, “Cabaré do João Baixinho”, “Sinhô violeiro”, “Canto da inhuma”, “Quatragem”, “Idéias de matuto”, “Tutameia”, “Noite de São João”, “Terno de dançantes”, “O demônio e a donzela”, “Grande sertão”, “O lenhador”, e “Juquinha meu cumpadre”, além de “A viola e sua origem”, de domínio público. Em 1987, de volta a Chantecler lançou o LP “A magia da viola”, no qual interpretou as obras “Reizados e congadas”, “Viola de beira de fogo”, “Sarapalha”, “Meu abraço a Portugal”, “Brincando com os harmônicos”, “Ponteado caipira”, “Sertões”, “Retirada da inhuma”, “Viola bem temperada”, “Sapateado”, e “O vôo da perdiz”, todas de sua autoria, além de “Raízes fronteiriças”, parceria com Tupy. Em 1993, gravou ao vivo, no CCBB, com Roberto Correia, o disco “Instrumental no CCBB” no qual foram interpretadas obras suas como “Meu abraço a Portugal”, “Folias de rei”, “Mariazinha foi-se embora”, “Viola bruja”, “Lembrando Tião Carreiro”, “Batata doce”, “Zabaleta no sertão”, “Mãos independentes”, e “Amor cigano”, de sua autoria com Arlindo Pinto, além de obras de Roberto Corrêa como “Peleja de siriema com cobra”, “Jararaca chateadeira”, “Baião do pé rachado”, “Antiqüera”, “Mazurca pantaneira”, e “Araponga isprivitada”, e também clássicos da música sertaneja como “Chalana”, de Mário Zan, “Saudade de Matão”, de A. Silva, J. Galati e Raul Torres, e “Pagode em Brasília”, de Teddy Vieira e Lourival dos Santos, além de “Luar do sertão”, de Catullo da Paixão Cearense, “Prenda minha”, de domínio público, “Asa branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e “Trenzinho do caipira”, de Villa Lobos.


Participou do CD “Violeiros do Brasil, com a faixa “O canto da siriema”, de sua autoria. O disco foi gravado ao vivo no Teatro do Sesc Pompéia, entre agosto e setembro de 1997 e lançado em junho de 1998, pelo SESC-Núcleo Contemporâneo. Em outubro de 2004, o CD foi relançado. A edição apresenta importantes artistas da viola caipira das várias regiões do Brasil, entre os quais, Almir Sater, Zé Gomes, Renato Andrade, Roberto Corrêa, Paulo Freire, Ivan Vilela, Pereira da Viola, Josias Dos Santos, Angelino de Oliveira, Renato Andrade, Tavinho Moura, Heitor Villa-lobos, Zé Mulato e Cassiano e Zé Coco do Riachão. O projeto foi idealizado pela produtora Myriam Taubkin e a gravação do disco foi sugerida pelo músico e produtor Benjamim Taubkin. Em 1999, lançou aquele que seria seu penúltimo disco solo, o CD “A viola e minha gente” no qual interpretou de sua autoria as canções “Renato e o Satanás”, “Ponta porã”, “Mané pelado”, “Música do coronel”, “Cabras e caatingas”, “Capiau “Beira-Córgo”, “Rojão da Pracidina”, “Açores”, “Inhuma do sertão”, “Casebre”, “Violinha de bambu”, “Sentado no pilão”, “Dia de reis”, “Bordel de povoado”, “Minha gente”, e “Viola para meditação”, além de “Cerrados”, parceria com João José da Silva.

Em 2002, lançou seu último disco solo, “Enfia a viola no saco”. Participou em 2004, da coletânea “Os bambas da viola”, lançada pela Kuarup, que reuniu num CD 6 renomados violeiros, para representar a viola das regiões do Brasil, além dele, o CD traz Roberto Corrêa, Almir Sater, Helena Meirelles, Haroldo do Monte e Chico Lobo. Nesse disco, interporetou tocando viola com João José da Silva ao violão as músicas “Música do coronel” e “Ponta Porã”, e tocando viola com Roberto Dimatus ao violão, a composição “Os ciganos”, de sua autoria. Ainda no final de 2004, participou do projeto Violas do Brasil, apresentando-se no Teatro II do CCBB, em alternância com outros quatro mestres do instrumento: Pena Branca, Chico Lobo, Almir Sater e Roberto Corrêa. Foi professor de nomes como Milton Nascimento, Fafá de Belém e Flávio Venturini. Uma de suas últimas apresentações foi nos shows de encerramento da eliminatória do Prêmio Syngenta de Música em Belo Horizonte.

Considerado como “O Guimarães Rosa da viola”, faleceu de câncer no pulmão aos 73 anos de idade deixando uma vasta e admirada obra. Desde muito cedo, dedicou-se à musica, indo para Belo Horizonte , estudar violino com o mestre Flausino Rodrigues Vale. Mais tarde, de volta à sua cidade natal, ao entrar em contato mais atento com a viola caipira, tornou-se fascinado pela sua sonoridade. Deixando o violino de lado, passou a se dedicar integralmente à viola, desenvolvendo apurada técnica e tornando-se um virtuose do instrumento. Sendo excelente intérprete de compositores eruditos, ficou conhecido como o instrumentista que levou a viola para a sala de concertos.

Seu virtuosismo e seu vasto conhecimento técnico e musical mesclavam-se à simplicidade da sonoridade da roça às melodias simples, fazendo surgir verdadeiras sinfonias caipiras. É considerado por muitos um dos maiores mestres da Viola Caipira instrumental.
Faleceu no dia 30 de dezembro de 2005 em Belo Horizonte (MG)"

OBRAS
Açores • Amor caipira • Amor cigano (c/ Arlindo Pinto) • Bailado catrumano • Ballet na roça • Batata doce • Bordel de povoado • Brincando com os harmônicos • Cabaré do João Baixinho • Cabras e caatingas • Canto da inhuma • Capiau “Beira-Córgo” • Casamento na roça • Casebre • Cerrados (c/ João José da Silva) • Corpo fechado • Dia de reis • Fogueiras • Folia de Reis • Grande sertão • Idéias de matuto • Inhuma do sertão • Juquinha meu cumpadre • Lembrando Tião Carreiro • Literatura do cordel • Mané pelado • Mãos independentes • Mariazinha foi-se embora • Meu abraço a Portugal • Minha gente • Moto perpétuo caipira • Música do coronel • Mutirão • Noite de São João • O capangueiro • O demônio e a donzela • O jeca na estrada • O lenhador • O vôo da perdiz • Os ciganos • Paineiras • Ponta porã • Ponteado caipira • Prelúdio da inhuma • Quatragem • Raízes fronteiriças (c/ Tupi) • Raízes ibéricas • Reizados e congadas • Relógio da fazenda • Renato e o Satanás • Retirada da inhuma • Rojão da Pracidina • Sagarana • Sapateado • Sarapalha • Senhores da terra • Sentado no pilão • Seriema no campo • Sertões • Sinhá e o diabo • Sinhô violeiro • Terno de dançantes • Tutameia • Urupês • Veredas mortas (c/ Tupy) • Viola bem temperada • Viola bruja • Viola de beira de fogo • Viola de cego • Viola de Queluz • Viola e suas variações • Viola para meditação • Violinha de bambu • Zabaleta no sertão


DISCOGRAFIA

• A Fantástica viola de Renato Andrade (1977) Chantecler LP
• Viola de Queluz (1979) Chantecler LP
• O Violeiro e o Grande Sertão (1984) Bemol LP
• A magia da viola (1987) Chantecler LP
• Instrumental no CCBB- Renato Andrade e Roberto Corrêa (1993) Tom Brasil
CD
• Violeiros do Brasil (1998) SESC-Núcleo Contemprâneo CD
• A viola e a minha gente (1999) Lapa Discos CD
• Enfia a viola no saco (2002) CD
• Violeiros do Brasil (2004) CD
• Os Bambas da Viola (2004) Kuarup CD