quinta-feira, 5 de março de 2009

05 de Março de 2009 - CENTENÁRIO DE PATATIVA DO ASSARÉ - CANTADÔ


Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como PATATIVA DO ASSARÉ, (Assaré/CE, nascido em 05 de março de 1909) foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro. Uma das principais figuras da poesia oral nordestina do século XX. Por volta dos vinte anos recebe o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave. Patativa viaja para Belém do Pará, e para Macapá (Amapá) onde apresentava-se como violeiro. Volta para o Ceará para trabalhar na terra, indo constantemente à Feira do Crato onde participava do programa da rádio Araripe, declamando seus poemas. Numa destas ocasiões é ouvido por José Arraes de Alencar que, convencido de seu potencial, lhe dá o apoio e o incentivo para a publicação de seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, de 1956. Este livro teria uma segunda edição com acréscimos em 1967, passando a se chamar Cantos do Patativa. Em 1970 é lançada nova coletânea de poemas, Patativa do Assaré: novos poemas comentados, e em 1978 foi lançado "CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ". Os outros dois livros, “ISPINHO E FULÔ” e “AQUI TEM COISA”, foram lançados respectivamente nos anos de 1988 e 1994. Foi casado com Belinha, com quem teve nove filhos. Faleceu em 08 de julho de 2002, na mesma cidade onde nasceu.

Deixemos para o próprio poeta contar a sua passagem por este mundo como Patativa do Assaré:

"AUTOBIOGRAFIA DE PATATIVA DO ASSARÉ

Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui, no Sí­tio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Meu pai, agricultor muito pobre, era possuidor de uma pequena parte de terra, a qual depois de sua morte, foi dividida entre cinco filhos que ficaram, quatro homens e uma mulher. Eu sou o segundo filho.

Quando completei oito anos, fiquei órfão de pai e tive que trabalhar muito, ao lado de meu irmão mais velho, para sustentar os mais novos, pois ficamos em completa pobreza. Com a idade de doze anos, freqüentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor. Saí­ da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não freqüentei mais escola nenhuma, porém sempre lidando com as letras, quando dispunha de tempo para este fim. Desde muito criança que sou apaixonado pela poesia, onde alguém lia versos, eu tinha que demorar para ouvi-los. De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras de noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam.

Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim.

Quando eu estava nos 20 anos de idade, o nosso parente José Alexandre Montoril, que mora no estado do Pará, veio visitar o Assaré, que é seu torrão natal, e ouvindo falar de meus versos, veio à nossa casa e pediu à minha mãe, para que ela deixasse eu ir com ele ao Pará, prometendo custear todas as despesas. Minha mãe, embora muito chorosa, confiou-me ao seu primo, o qual fez o que prometeu, tratando-me como se trata um próprio filho.

Chegando ao Pará, aquele parente apresentou-me a José Carvalho, filho de Crato, que era tabelião do 1o. Cartório de Belém. Naquele tempo, José Carvalho estava trabalhando na publicação de seu livro “O matuto Cearense e o Caboclo do Pará”, o qual tem um capí­tulo referente a minha pessoa e o motivo da viagem ao Pará. Passei naquele estado apenas cinco meses, durante os quais não fiz outra coisa, senão cantar ao som da viola com os cantadores que lá encontrei.

De volta do Ceará, José Carvalho deu-me uma carta de recomendação, para ser entregue à Dra. Henriqueta Galeno, que recebendo a carta, acolheu-me com muita atenção em seu Salão, onde cantei os motes que me deram. Quando cheguei na Serra de Santana, continuei na mesma vida de pobre agricultor; depois casei-me com uma parenta e sou hoje pai de uma numerosa famí­lia, para quem trabalho na pequena parte de terra que herdei de meu pai. Não tenho tendência polí­tica, sou apenas revoltado contra as injustiças que venho notando desde que tomei algum conhecimento das coisas, provenientes talvez da polí­tica falsa, que continua fora do programa da verdadeira democracia.

Nasci a 5 de março de 1909. Perdi a vista direita, no perí­odo da dentição, em conseqüência da moléstia vulgarmente conhecida por Dor-d’olhos.

Desde que comecei a trabalhar na agricultura, até hoje, nunca passei um ano sem botar a minha roçazinha, só não plantei roça, no ano em que fui ao Pará.

ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA, Patativa do Assaré."




sábado, 24 de janeiro de 2009

A VIOLA - OS VIOLEIROS DO BRASIL (LIVRO E DVD)





VIOLA: Instrumento popular surgido no século 13 e que os portugueses trouxeram para o Brasil em suas primeiras viagens, a viola se alojou especialmente no interior do país mantendo a característica que trouxe do berço: traduzir em música as alegrias e tristezas do povo.
VIOLEIROS DO BRASIL - Livro e DVD: Com mais de trinta anos dedicada à produção e pesquisa em música brasileira, a produtora cultural Myriam Taubkin lançou o livro e o DVD Violeiros do Brasil, projeto que concebeu e realizou, onde expõe em textos e imagens preciosidades do universo da viola e de onze de seus mais destacados instrumentistas.


Os extraordinários praticantes da viola retratados no livro e DVD são: Adelmo Arcoverde, Almir Sater, Braz da Viola, Ivan Vilela, Passoca, Paulo Freire, Pena Branca, Pereira da Viola, Roberto Correa, Tavinho Moura e Zé Mulato & Cassiano.


O livro e o DVD Violeiros do Brasil poderão ser adquiridos, juntos ou separadamente, no site:
Também podem ser encontrados nas principais livrarias e lojas de cds/dvds do país.


O livro Violeiros do Brasil tem prefácio da grande Inezita Barroso, fotos de Angélica Del Nery, coordenação editorial de Adriana Amback e Myriam Taubkin, projeto gráfico de Teresa Maita e Roberta Asse, produção de Luana Gorayeb. O livro também presta um serviço aos interessados no assunto: lista em verbetes e contatos os violeiros e luthiers em atividade no Brasil, uma pesquisa de Rafael Marin. São 238 páginas no formato 25cm x 18cm, impresso em cinco cores.




O DVD Violeiros do Brasil tem fotografia, edição e direção de Sérgio Roizenblit; entrevistas por Myriam Taubkin, Sérgio Roizenblit e Angélica Del Nery; som direto, gravações e mixagem por Clement Zular, Áudio Portátil; projeto gráfico da capa e encarte: Teresa Maita e Roberta Asse; assistente de produção: Daniella Rubio; produção e administração: Luana Gorayeb. O DVD tem 144 minutos de duração. Edição bilíngüe com encarte e legendas em inglês.


HOJE A PROSA É LONGA, MAS PELA IMPORTÂNCIA DO MESTRE É UM GRÃO DE AREIA - RENATO ANDRADE


“Sertão, o senhor querendo procurar, nunca encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem”. (Guimarães Rosa)


Retirado de: Paragon Brasil



"Nasceu no dia 28 de agosto de 1932, na cidade de Abaeté (MG) 28/8/1932 Abaeté, e foi para o Rio de Janeiro na década de 1970, iniciando a carreira artística já com 36 anos de idade quando musicou e participou como codjuvante do filme “Corpo fechado”, de Schubert Magalhães. Apresentou-se interpretando concertos de Edino Krieger, Guerra-Peixe e Francisco Mignone. Em 1977, lançou seu primeiro disco solo “A fantástica viola de Renato Andrade”, no qual interpretou, de sua autoria, as obras “Seriema no campo”, “Prelúdio da inhuma”, “Literatura do cordel”, “Sagarana”, “Bailado catrumano”, “Sinhá e o diabo”, “Relógio da fazenda”, “Viola e suas variações”, “Folia de Reis”, “O jeca na estrada”, “Mutirão”, “Casamento na roça”, “Amor caipira”, e “Corpo fechado”.

Sua técnica dominava diferentes afinações da viola caipira, como o cebolão (a mais comum), a rio abaixo e a de guitarra. Apresentou-se em shows em todo o Brasil e também realizou diversas turnês em outros países. Em 1979, lançou o LP “Viola de Queluz”, que assim como o primeiro disco, também saiu pela Chantecler. Nesse LP, interpretou “Viola de cego”, “Ballet na roça”, “O capangueiro”, “Viola de Queluz”, “Moto perpétuo caipira”, ” Urupês”, “Senhores da terra”, e “Raízes ibéricas”, todas de sua autoria, além de “Veredas mortas”, com Tupy, e as clássicas “Tristezas do jeca”, de Angelino de Oliveira, e “Luar do sertão”, de Catullo da Paixão Cearense. São diversos os projetos culturais e musicais de que participou, como o “Instrumental no CCBB”, que foi registrado em CD e outros, pelo SESC, como o “Violeiros do Brasil”, em que se apresentou em diversas cidades brasileiras, ao lado de Roberto Corrêa, Almir Sater, Braz da Viola, entre outros.

Em 1984, lançou pelo selo Bemol o LP “O violeiro e o grande sertão: A viola que vi e ouvi” no qual interpretou 13 composições de sua autoria: “Fogueiras”, “Cabaré do João Baixinho”, “Sinhô violeiro”, “Canto da inhuma”, “Quatragem”, “Idéias de matuto”, “Tutameia”, “Noite de São João”, “Terno de dançantes”, “O demônio e a donzela”, “Grande sertão”, “O lenhador”, e “Juquinha meu cumpadre”, além de “A viola e sua origem”, de domínio público. Em 1987, de volta a Chantecler lançou o LP “A magia da viola”, no qual interpretou as obras “Reizados e congadas”, “Viola de beira de fogo”, “Sarapalha”, “Meu abraço a Portugal”, “Brincando com os harmônicos”, “Ponteado caipira”, “Sertões”, “Retirada da inhuma”, “Viola bem temperada”, “Sapateado”, e “O vôo da perdiz”, todas de sua autoria, além de “Raízes fronteiriças”, parceria com Tupy. Em 1993, gravou ao vivo, no CCBB, com Roberto Correia, o disco “Instrumental no CCBB” no qual foram interpretadas obras suas como “Meu abraço a Portugal”, “Folias de rei”, “Mariazinha foi-se embora”, “Viola bruja”, “Lembrando Tião Carreiro”, “Batata doce”, “Zabaleta no sertão”, “Mãos independentes”, e “Amor cigano”, de sua autoria com Arlindo Pinto, além de obras de Roberto Corrêa como “Peleja de siriema com cobra”, “Jararaca chateadeira”, “Baião do pé rachado”, “Antiqüera”, “Mazurca pantaneira”, e “Araponga isprivitada”, e também clássicos da música sertaneja como “Chalana”, de Mário Zan, “Saudade de Matão”, de A. Silva, J. Galati e Raul Torres, e “Pagode em Brasília”, de Teddy Vieira e Lourival dos Santos, além de “Luar do sertão”, de Catullo da Paixão Cearense, “Prenda minha”, de domínio público, “Asa branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e “Trenzinho do caipira”, de Villa Lobos.


Participou do CD “Violeiros do Brasil, com a faixa “O canto da siriema”, de sua autoria. O disco foi gravado ao vivo no Teatro do Sesc Pompéia, entre agosto e setembro de 1997 e lançado em junho de 1998, pelo SESC-Núcleo Contemporâneo. Em outubro de 2004, o CD foi relançado. A edição apresenta importantes artistas da viola caipira das várias regiões do Brasil, entre os quais, Almir Sater, Zé Gomes, Renato Andrade, Roberto Corrêa, Paulo Freire, Ivan Vilela, Pereira da Viola, Josias Dos Santos, Angelino de Oliveira, Renato Andrade, Tavinho Moura, Heitor Villa-lobos, Zé Mulato e Cassiano e Zé Coco do Riachão. O projeto foi idealizado pela produtora Myriam Taubkin e a gravação do disco foi sugerida pelo músico e produtor Benjamim Taubkin. Em 1999, lançou aquele que seria seu penúltimo disco solo, o CD “A viola e minha gente” no qual interpretou de sua autoria as canções “Renato e o Satanás”, “Ponta porã”, “Mané pelado”, “Música do coronel”, “Cabras e caatingas”, “Capiau “Beira-Córgo”, “Rojão da Pracidina”, “Açores”, “Inhuma do sertão”, “Casebre”, “Violinha de bambu”, “Sentado no pilão”, “Dia de reis”, “Bordel de povoado”, “Minha gente”, e “Viola para meditação”, além de “Cerrados”, parceria com João José da Silva.

Em 2002, lançou seu último disco solo, “Enfia a viola no saco”. Participou em 2004, da coletânea “Os bambas da viola”, lançada pela Kuarup, que reuniu num CD 6 renomados violeiros, para representar a viola das regiões do Brasil, além dele, o CD traz Roberto Corrêa, Almir Sater, Helena Meirelles, Haroldo do Monte e Chico Lobo. Nesse disco, interporetou tocando viola com João José da Silva ao violão as músicas “Música do coronel” e “Ponta Porã”, e tocando viola com Roberto Dimatus ao violão, a composição “Os ciganos”, de sua autoria. Ainda no final de 2004, participou do projeto Violas do Brasil, apresentando-se no Teatro II do CCBB, em alternância com outros quatro mestres do instrumento: Pena Branca, Chico Lobo, Almir Sater e Roberto Corrêa. Foi professor de nomes como Milton Nascimento, Fafá de Belém e Flávio Venturini. Uma de suas últimas apresentações foi nos shows de encerramento da eliminatória do Prêmio Syngenta de Música em Belo Horizonte.

Considerado como “O Guimarães Rosa da viola”, faleceu de câncer no pulmão aos 73 anos de idade deixando uma vasta e admirada obra. Desde muito cedo, dedicou-se à musica, indo para Belo Horizonte , estudar violino com o mestre Flausino Rodrigues Vale. Mais tarde, de volta à sua cidade natal, ao entrar em contato mais atento com a viola caipira, tornou-se fascinado pela sua sonoridade. Deixando o violino de lado, passou a se dedicar integralmente à viola, desenvolvendo apurada técnica e tornando-se um virtuose do instrumento. Sendo excelente intérprete de compositores eruditos, ficou conhecido como o instrumentista que levou a viola para a sala de concertos.

Seu virtuosismo e seu vasto conhecimento técnico e musical mesclavam-se à simplicidade da sonoridade da roça às melodias simples, fazendo surgir verdadeiras sinfonias caipiras. É considerado por muitos um dos maiores mestres da Viola Caipira instrumental.
Faleceu no dia 30 de dezembro de 2005 em Belo Horizonte (MG)"

OBRAS
Açores • Amor caipira • Amor cigano (c/ Arlindo Pinto) • Bailado catrumano • Ballet na roça • Batata doce • Bordel de povoado • Brincando com os harmônicos • Cabaré do João Baixinho • Cabras e caatingas • Canto da inhuma • Capiau “Beira-Córgo” • Casamento na roça • Casebre • Cerrados (c/ João José da Silva) • Corpo fechado • Dia de reis • Fogueiras • Folia de Reis • Grande sertão • Idéias de matuto • Inhuma do sertão • Juquinha meu cumpadre • Lembrando Tião Carreiro • Literatura do cordel • Mané pelado • Mãos independentes • Mariazinha foi-se embora • Meu abraço a Portugal • Minha gente • Moto perpétuo caipira • Música do coronel • Mutirão • Noite de São João • O capangueiro • O demônio e a donzela • O jeca na estrada • O lenhador • O vôo da perdiz • Os ciganos • Paineiras • Ponta porã • Ponteado caipira • Prelúdio da inhuma • Quatragem • Raízes fronteiriças (c/ Tupi) • Raízes ibéricas • Reizados e congadas • Relógio da fazenda • Renato e o Satanás • Retirada da inhuma • Rojão da Pracidina • Sagarana • Sapateado • Sarapalha • Senhores da terra • Sentado no pilão • Seriema no campo • Sertões • Sinhá e o diabo • Sinhô violeiro • Terno de dançantes • Tutameia • Urupês • Veredas mortas (c/ Tupy) • Viola bem temperada • Viola bruja • Viola de beira de fogo • Viola de cego • Viola de Queluz • Viola e suas variações • Viola para meditação • Violinha de bambu • Zabaleta no sertão


DISCOGRAFIA

• A Fantástica viola de Renato Andrade (1977) Chantecler LP
• Viola de Queluz (1979) Chantecler LP
• O Violeiro e o Grande Sertão (1984) Bemol LP
• A magia da viola (1987) Chantecler LP
• Instrumental no CCBB- Renato Andrade e Roberto Corrêa (1993) Tom Brasil
CD
• Violeiros do Brasil (1998) SESC-Núcleo Contemprâneo CD
• A viola e a minha gente (1999) Lapa Discos CD
• Enfia a viola no saco (2002) CD
• Violeiros do Brasil (2004) CD
• Os Bambas da Viola (2004) Kuarup CD

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

NOEL ROSA - FEITIO DE ORAÇÃO -


NOEL ROSA veio ao mundo em 11 de dezembro de 1910, no Rio de Janeiro, RJ, há exatos 98 anos.

Noel aprendeu a tocar bandolim com sua mãe - era quando se sentia mais importante, lá no Colégio São Bento. Sentava-se para tocar, e todos os meninos e meninas paravam para ouvi-lo maravilhados. Com o tempo, adotou o violão, instrumento que seu pai tocava.

Franzino e debilitado desde muito cedo, dona Marta vivia preocupada com o filho, pedindo-lhe que não se demorasse na rua e que voltasse cedo para o lar. Tomando conhecimento, certa ocasião, que Noel iria à uma festa em um sábado, escondeu todas as suas roupas sociais. Quando seus amigos chegaram para apanhá-lo, Noel grita, de seu quarto: "Com que roupa?" - no mesmo instante a inspiração para seu primeiro grande sucesso, gravado para o carnaval de 1931, onde vendeu 15.000 discos!

Curso a faculdade de medicina mas a única coisa que isso lhe rendeu foi o samba "Coração" - ainda assim com erros anatômicos. O Brasil perdeu um médico, por outro lado foi contemplado com um dos maiores sambistas de todos os tempos.

A genialidade era latente, de cenas do cotidiano extraía até de desavenças motivo para composição dos sambas. Wilson Batista, também um grande sambista contemporâneo de Noel, havia composto um samba chamado "Lenço no Pescoço", um ode à malandragem, muito comum nos sambas da época. Noel, que nunca perdia a chance de brincar com um bom tema, escreveu em resposta "Rapaz Folgado"

(Deixa de arrastar o seu tamanco / Que tamanco nunca foi sandália / Tira do pescoço o lenço branco / Compra sapato e gravata / Joga fora esta navalha que te atrapalha).

Wilson Batista, contrariado, compôs "O Mocinho da Vila, criticando o compositor e seu bairro. Noel respondeu poeticamente, com a fantástica "Feitiço da Vila". A briga já era um sucesso, todo mundo acompanhando. Wilson retorna com "Conversa Fiada" (É conversa fiada / Dizerem que os sambas / Na Vila têm feitiço) . Foi a deixa para Noel compor um dos seus mais famosos e cantados sambas, "Palpite Infeliz". Wilson Batista, ao invés de reconhecer a derrota, fez o triste papel de compor "Frankstein da Vila" , sobre o defeito físico de Noel. Noel não respondeu. Wilson insistiu compondo "Terra de Cego". Noel encerra a polêmica usando a mesma melodia de Wilson nessa última música, compondo "Deixa de Ser Convencido".


Noel Rosa era tímido e recatado. Sem dinheiro, vivia às expensas de poucos trocados que recebia de suas composições e do auxílio de sua mãe. O dinheiro que ele ganhava era destinado com a romântica vida boemia, com as mulheres e com a bebida. Noel morreu no Rio de Janeiro, em 04 de maio de 1937, aos 26 anos, vitimado por um crônico pulmonar que resultou em Tuberculose.


No Samba FILOSOFIA: deixou eternizada a sentença que ainda se cumpre, lamentavelmente, pelos quadrantes desse país:


“Quanto a você / Da aristocracia / Que tem dinheiro / Mas não compra alegria / Há de viver eternamente / Sendo escrava desta gente / Que cultiva hipocrisia”


NOEL ROSA, PRESENTE!!!!!!!!!!!!

Assista ao recente filme baseado na vida do Sambista e Boêmio NOEL ROSA: NOEL, Poeta da Vila.


sábado, 6 de dezembro de 2008

ANTÔNIO CALLADO - CONTRA O ESQUECIMENTO: PRESENTE

Há uma advertência quanto temos um obra de Antônio Callado nas mãos, a saber: "Não basta ler o que ele escreve, é essencial observar COMO ele escreve." Tal frase foi pinçada na redação de um jornal por NÉLSON RODRIGUES e encontra-se em uma de suas crônicas / confissões presente em "ÓBVIO ULULANTE". Nós, brasileiros, temos um dívida eterna com esse homem que foi, além de magistral escritor, um dos nossos homens de resistência nos anos de conhecidos como de "Chumbo".
Antonio Carlos Callado nasceu em Niterói (RJ), no dia 26 de janeiro de 1917. Jornalista, romancista, biógrafo teatrólogo e bacharel em Direito, começou a trabalhar, como repórter e cronista, em O Correio da Manhã. (omissis) Aposentou-se como jornalista em 1975, mas continuou a colaborar na imprensa. Em abril de 1992 tornou-se colunista da Folha de S. Paulo. Além das atividades jornalísticas, dedicou-se sempre à literatura. Após seus dois primeiros romances, Assunção de Salviano (1954) e A madona de cedro (1957), nos quais persiste uma nítida preocupação religiosa a informar e até mesmo a condicionar o transcurso da aventura e a temática, Callado se encontra com os principais temas de sua obra através do jornalismo, e escreve livros de reportagem e obras literárias engajadas com as grandes questões de seu tempo. Entre os mais importantes, estão Quarup (1967), Bar Don Juan (1971), Reflexos do baile (1976), Sempreviva (1981), que apresentam um retrato do Brasil durante o regime militar, do ponto de vista dos opositores. Seu engajamento lhe custou duas prisões: uma em 1964, logo após o golpe militar, e outra em 1968, após o fechamento do Congresso com o AI-5.Teatrólogo, reuniu quatro de suas peças no volume A Revolta da Cachaça, em 1983. (omissis) Em 1958 recebeu, na Embaixada da Itália no Rio de Janeiro, a medalha da Ordem do Mérito da República Italiana. Em 1982 foi à Alemanha, como vencedor do Prêmio Goethe, do Goethe Institut do Rio de Janeiro, com o romance Sempreviva. Em setembro de 1985 recebeu, pelo conjunto de suas obras, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em outubro de 1985 recebeu, na Embaixada da França em Brasília, a Medalha das Artes e das Letras, das mãos do Ministro da Cultura Jack Lang; em maio de 1986, o prêmio Golfinho de Ouro, de Literatura, outorgado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro; em 1989, o troféu Juca Pato, da União Brasileira dos Escritores, por ter sido eleito “Intelectual do Ano”.Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 17 de março de 1994, Cadeira n. 8, na sucessão de Austregésilo de Athayde, foi recebido em 12 de julho de 1994 pelo acadêmico Antonio Houaiss.Era membro da The Corpus Association, do Corpus Christi College, Cambridge (Inglaterra). Faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 28 de janeiro de 1997.

Principais obras: Esqueleto na lagoa Verde, reportagem (1953); A assunção de Salviano, romance (1954); A cidade assassinada, teatro (1954); Frankel, teatro (1955);A madona de cedro, romance (1957); Retrato de Portinari, biografia (1957); Pedro Mico, teatro (1957); Colar de coral, teatro (1957);Os industriais da seca, reportagem (1960);O tesouro de Chica da Silva, teatro (1962); Forró no engenho cananéia, teatro (1964); Tempo de Arraes, reportagem (1965);Quarup, romance (1967); Vietnã do Norte, reportagem (1969); Bar Don Juan, romance (1971); Reflexos do baile, romance (1976); Sempreviva, romance (1981); A expedição Montaigne, romance (1982); A revolta da cachaça, teatro, reunião de 4 peças (1983); Entre o deus e a vasilha, reportagem (1985);Concerto carioca, romance (1985);Memórias de Aldenham House, romance (1989);O homem cordial e outras histórias, contos (1993).
"Texto extraído do livro “O homem cordial e outras histórias”, Editora Ática – São Paulo, 1993.)

MANOEL DE BARROS - POETA DE TIRAR O CHÁPEU

Crédito: http://oglobo.globo.com/fotos/2008/03/17/17_MHG_manoel.jpg


Atendendo a um especial e oportuno pedido de minha comadre virtual das Gerais, quero trazer esse Poeta Pantaneiro para o mundo da "rede virtual" e levar ele depois com cada leito pelo universo mágico e lúdico dos seus belos versos.


Trata-se de Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.

Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até terminar seu curso de Direito, em 1949. Como já foi dito, mais tarde tornou-se fazendeiro e assumiu de vez o Pantanal.

Seu primeiro livro foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou "Poemas concebidos sem pecado". Foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele.


Nos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros. Outros fizeram o mesmo: Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre eles. Os intelectuais iniciaram, através de tanta recomendação, o conhecimento dos poemas que a Editora Civilização Brasileira publicou, em quase a sua totalidade, sob o título de "Gramática expositiva do chão".

Hoje o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais originais do século e mais importantes do Brasil. Guimarães Rosa, que fez a maior revolução na prosa brasileira, comparou os textos de Manoel a um "doce de coco". Foi também comparado a São Francisco de Assis pelo filólogo Antonio Houaiss, "na humildade diante das coisas. (...) Sob a aparência surrealista, a poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade.

O diretor Pedro Cezar filmou "Só dez por cento é mentira", um documentário sobre a vida do poeta que lançado no primeiro semestre de 2007. O título do filme refere-se a uma frase de Manoel de Barros: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira".

Um homem catava pregos no chão. / Sempre os encontrava deitados de comprido, ou de lado, / ou de joelhos no chão. / Nunca de ponta. / Assim eles não furam mais - o homem pensava. / Eles não exercem mais a função de pregar. / São patrimônios inúteis da humanidade. / Ganharam o privilégio do abandono. / O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados. / Acho que essa tarefa lhe dava algum estado. / Estado de pessoas que se enfeitam a trapos. / Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser. / Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
"O CATADOR - Tratado geral das grandezas do ínfimo, Editora Record - 2001, pág. 43.)

sábado, 11 de outubro de 2008

11/10/1908 - 2008 CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO MESTRE CARTOLA

Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, (Rio de Janeiro 11 de outubro de 1908Rio de Janeiro, 30de novembro de 1980) foi um cantor, compositor e poeta brasileiro.
Era um dos sambistas que compunham a velha-guarda da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, sendo considerado o responsável tanto pela escolha do nome, como das cores adotadas pela Escola (verde e rosa). A escolha das cores foi uma homenagem ao seu amado Fluminense, clube de futebol do Rio de Janeiro que utiliza-se de combinações mais sóbrias das mesmas cores (grená, verde escuro e branco).
Cartola compôs, sozinho ou com parceiros, mais de quinhentas canções, como "
As Rosas Não Falam", "Alvorada", "O Mundo é um Moinho" e "O Sol Nascerá", tendo sido esta última regravada mais de 600 vezes. Suas canções são musicalmente bastante elaboradas e suas letras têm uma carga poética muito forte.

CORRE E OLHE O CÉU -

Autoria: Cartola

Linda! / Te sinto mais bela / E fico na espera / Me sinto tão só / Mas! O tempo que passa / Em dor maior / Bem maior... / Linda! / No que se apresenta / O triste se ausenta / Fez-se a alegria / Corra e olhe o céu / Que o sol vem trazer / Bom dia / Aaai! / Corra e olhe o céu / Que o sol vem trazer / Bom dia... / Linda! / Te sinto mais bela / Te fico na espera / Me sinto tão só / Mas! / O tempo que passa / Em dor maior / Bem maior... / Linda! / No que se apresenta / O triste se ausenta / Fez-se a alegria / Corra e olhe o céu / Que o sol vem trazer / Bom dia / Aaai! / Corra e olhe o céu / Que o sol vem trazer / Bom dia... "

Com idêntica beleza, temos o legado:

"ALVORADA

Alvorada
Lá no morro que beleza
Ninguém chora não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo é tão lindo
É tão lindo
E a natureza sorrindo
Tingindo, tingindo
Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
E o que me resta é bem pouco
Quase nada
Do que ir assim vagando
Numa estrada perdida "

Parabéns CARTOLA. E o nosso muito obrigado pelas canções que ficarão em nossos corações por gerações e gerações, na eternidade.

AUSÊNCIA JUSTIFICADA E NECESSÁRIA


Ficamos com o blog Resistência Culturais "fora do ar" por motivo, dentre outros de ordem pessoal, em razão do processo eleitoral municipal de 2008, principalmente, ocasião que estivemos lutando pela eleição, em Vila Velha/ES, de CLAUDIO VEREZA, do tamanho do Brasil e de JOÃO BATISTA BABÁ, para vereador. Sentimos e muita saudade deste espaço. Vários(as) amigos(as) exigindo o nosso retorno através de telefonemas, mensagem eletrônicas e outros e nós saindo pela tangente deixamos passar os pleitos, depois dar um descanso. Durante a nossa ausência pensando no blog vinha sempre a mente a canção abaixo transcrita, de autoria de Ivan Lins a quem redemos as nossas homenagens.

Ivan Guimarães Lins nasceu no Rio de Janeiro RJ em 16 de Junho de 1945. Em 1991, criou a gravadora VELAS com o objetivo exclusivo de lançar novos talentos e de resgatar as raízes da musica brasileira, além de vários álbuns de contínuo sucesso, muito deles inesquecíveis pela excelente qualidade das poéticas letras e musicalidade.

"- De nosso amor tão sincero -

Composição: Ivan Lins

Não fosse a nossa consciência A gente teria mais tempo Pra ser envolver nos mistérios De nosso amor tão sincero Não fosse a tamanha injustiça Que se alastra por todo o país A gente teria mais chance De estar junto e feliz Não fosse a luta diária Que mal dá pra ver os filhos Não fosse o bem desgovernado Teimando em sair dos trilhos A gente estaria tranqüiloUm bem dentro do outro Vivendo no mesmo corpo Como devem ser os casaisSonhando com coisas reais E dançando..., e cantando... E dançando..., e cantando...Não fosse a tamanha injustiça Que se alastra por todo o país A gente teria mais chance De estar junto e feliz Não fosse a luta diária Que mal dá pra ver os filhos Não fosse o bem desgovernado Teimando em sair dos trilhos A gente estaria tranqüilo Um bem dentro do outro Vivendo no mesmo corpo Como devem ser os casaisSonhando com coisas reais E dançando..., e cantando... E dançando..., e cantando... "

quinta-feira, 17 de julho de 2008

VITAL FARIAS NO DIA DE PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS



Hoje, 17 de Julho - Dia de Proteção às Florestas - é fundamental para que possamos lembrar da importância de conservarmos nossas florestas: aumentar a proteção, manter os múltiplos papéis e funções de todos os tipos de florestas, reabilitar o que está degradado. Isto é, preservar a vida no planeta.


E falando em Proteção às Florestas, veio à mente a figura do menestrel VITAL FARIAS, que inclusive participou do programa na TV CULTURA, na noite da última terça-feira, 15/07, com reprise no domingo, 20/07, às 10h00, no mesmo canal, TV CULTURA. Entre os meus links favoritos está o site do Vital Farias e do programa Sr. Brasil para mais e melhores informações.



No dia 23 de Janeiro de 1943, em Taperoá (PB), nascia VITAL FÁRIAS, caçula de 14 irmãos. Foi alfabetizado com as irmãs através da Literatura de Cordel. Aos 18 anos, apesar da tradição musical da família, começou a estudar violão sozinho. Nessa época, foi para João Pessoa para servir ao Exército. Participou de diversos conjuntos musicais, entre os quais "Os quatro loucos", que apresentava imitações de músicas do conjunto de rock inglês "The Beatles". Pouco depois passou a dar aula de violão e teoria musical no Conservatório de Música de João Pessoa. Em 1975 mudou-se para o Rio de Janeiro, e no ano seguinte foi aprovado no vestibular para a Faculdade de Música. No Rio de Janeiro começou a participar de shows e outros eventos artísticos, como a peça “Gota d’água” (1976), de Chico Buarque de Hollanda, atuando como músico. Sua primeira composição gravada foi "Ê mãe", em parceria com Livardo Alves e gravada por Ari Toledo. Em 1978 gravou o seu primeiro disco. Dois anos depois saía “Taperoá”, seu segundo disco. Em 1982 lançou o LP "Sagas brasileiras". Em 1984 lançou, pela Kuarup, o CD Cantoria I, com Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai. Em 1985 lançou o LP "Do jeito Natural", uma coletânea com seus maiores sucessos. No mesmo ano participou do álbum Cantoria II, com os mesmos integrantes do CD anterior. Depois disso resolveu parar de gravar por um tempo e passou a se dedicar aos estudos. Suas composições destacam-se pelo humor e inventividade, onde se mesclam canções nordestinas, sambas de breque, modinhas, xaxados e outros ritmos. Em 2002 lançou o disco "Vital Farias ao vivo e aos mortos vivos". Recebeu, ainda no mesmo período, o título de Cidadão do Rio de Janeiro.


Do CD CANTORIA extraímos a canção, dentre tantas lindas:


"SAGA DA AMAZÔNIA


Composição: Vital Farias


Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta / mata verde, céu azul, a mais imensa floresta / no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas / e os rios puxando as águas / Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores / os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores / sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir era: fauna, flora, frutos e flores / Toda mata tem caipora para a mata vigiar / veio caipora de fora para a mata definhar / e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira / e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira / Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar / prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar: se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar / eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá / O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar / e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar? / depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o arigarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar / Mas o dragão continua a floresta devorar / e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar??? / corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduátartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura / No lugar que havia mata, hoje há perseguição / grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão / castanheiro, seringueiro já viraram até peão / afora os que já morreram como ave-de-arribação / Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova / gente enterrada no chão: Pos mataram índio que matou grileiro que matou posseiro / disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro / roubou seu lugar / Foi então que um violeiro chegando na região / ficou tão penalizado que escreveu essa canção / e talvez, desesperado com tanta devastação / pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção / com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa / dentro do seu coração / Aqui termina essa história para gente de valor / prá gente que tem memória, muita crença, muito amor / prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta / era uma vez uma floresta na Linha do Equador... "


Fonte:
No mapa acima dá para se ter uma noção da grave situação do desmatamento da Floresta Amazônica, devemos nos lembrar também da Mata Atlântica e outras. Cabe denunciar e participar das campanhas em prol da preservação das florestas.


sábado, 12 de julho de 2008

CORA CORALINA - PESSOAS E COISAS INTERIORANAS

Tocado pelo versos, pela simplicidade e pela história de vida dessa mulher na qual fui buscar o verso que está na apresentação do blog e me dei conta da injustiça, ora reparada, de não ter dado maior visibilidade a sua vida e obra. Perdão, Aninha.



"Cora Coralina (Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas) - 20-08-1889/10-04-1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Em 1910, seu primeiro conto, "Tragédia na Roça", é publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás", já com o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP) e , em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.

Sintam a admiração do poeta, manifestada em carta dirigida a Cora em 1983:

"Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)." Editado pela Universidade Federal de Goiás, em 1983, seu novo livro "Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha", é muito bem recebido pela crítica e pelos amantes da poesia. Em 1984, torna-se a primeira mulher a receber o Prêmio Juca Pato, como intelectual do ano de 1983. Viveu 96 anos, teve seis filhos, quinze netos e 19 bisnetos, foi doceira e membro efetivo de diversas entidades culturais, tendo recebido o título de doutora "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás. No dia 10 de abril de 1985, falece em Goiânia. Seu corpo é velado na Igreja do Rosário, ao lado da Casa Velha da Ponte. "Estórias da Casa Velha da Ponte" é lançado pela Global Editora. Postumamente, foram lançados os livros infantis "Os Meninos Verdes", em 1986, e "A Moeda de Ouro que um Pato Comeu", em 1997, e "O Tesouro da Casa Velha da Ponte", em 1989.
Texto extraído do livro "Estórias da casa velha da ponte", Global Editora - São Paulo, 2000, pág. 63.
Poema na íntegra:
Não sei... se a vida é curta...
Não sei... Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira e pura...
enquanto durar. "
Cora Coralina

quinta-feira, 10 de julho de 2008

HEITOR VILLA LOBOS - BACHIANAS Nº 5 - DIVINOS

Hoje, ao acordar, coloquei para tocar a música Bachiana nº 5 - Cantilena. Sempre que ouço esta música capto intensamente a beleza e o encantamento que me levam a conexão com a força Divina, e me dei conta que deveria falar desse Mestre da Música Brasileira. Vamos lá:


Heitor Villa-Lobos nasceu em 05/03/1887, na então capital federal, Rio de Janeiro/RJ.


Uma das figuras mais importantes da história da música no Brasil. Conheceu a obra de Bach, quando criança, através de seu pai. Posteriormente, residiu com a família no interior do Estado do Rio e de Minas Gerais, entrando em contato com as modas caipiras e tocadores de viola. De volta ao Rio de Janeiro, interessou-se pelos "chorões", músicos que tocavam em festas e durante o carnaval, levando-o a estudar violão.


Percorrer o Brasil, pesquisando a temática da música popular - cantigas de viola, reisados, frevos, quando coletou mais de 1.000 temas folclóricos.


Faleceu em 17/11/1959, no Rio de Janeiro/RJ, deixando cerca de 1.500 peças, nos mais diversos gêneros e para as mais diversas formações instrumentais e vocais. No ano seguinte, foi fundado, em sua homenagem, o Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, o endereço do sítio está nos linkes favoritos - Confira.


Quem quiser ficar encantado(a):


ou ainda:


Há também o filme VILLA LOBOS - UMA VIDA DE PAIXÃO, que é uma cinebiografia do Maestro Villa Lobos, levada às telas pelo diretor Zelito Viana.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

CLARICE FOTOBIOGRAFIA


Na tradicional visita a livraria deparei-me e de imediato me apaixonei com o livro "Clarice Fotobiografia", trata-se de uma maravilhosa fotobiografia de Clarice Lispector, organizada por Nádia Batelle Gotlib, professora da USP e reconhecida como uma das maiores especialistas na obra de Clarice Lispector. O livro possui cerca de 800 imagens da escritora, com anotações, trechos manuscritos de obras, documentos pessoais, cartas que Clarice escreveu e recebeu, capas de seus livros, depoimentos de parentes e amigos e reproduções de entrevistas que concedeu. Esse livro já faz parte do meu acervo e a cada página é uma viagem no tempo e no universo mágico e inteligente dessa escritora sempre desafiadora e provocadora em suas reflexões. Recomendo, pela sensibilidade e pela história de vida.
Dentre tantos, um trecho marcante, pela saudade:
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1.920, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Faleceu, no Rio de Janeiro/RJ, no dia 9 de dezembro de 1.977, um dia antes do seu 57° aniversário.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

27 DE JUNHO DE 2.008 - CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE GUIMARÃES ROSA


Seria uma falta muito grave, gravíssima, deixar passar em brancas nuvens o Centenário de Nascimento de João Guimarães Rosa, mineiro e, conseqüentemente brasileiro, que cabe as maiores luzes pelas sensíveis revelações sobre o sertão e os sertanejos. Há um amigo "Sem Limite" que tem o livro "Grandes Sertões Veredas" como seu livro de cabeceira e de leituras diárias. Exemplos a serem seguidos.

Escreveu Guimarães Rosa:

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."


João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por "seu Fulô" comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias.


BIBLIOGRAFIA:

- Magma (1936), poemas. Não chegou a publicá-los.
- Sagarana (1946), contos e novelas regionalistas. Livro de estréia.
- Com o vaqueiro Mariano (1947)
- Corpo de Baile (1956), novelas. (Atualmente publicado em três partes: - Manuelzão e Miguilim, - No Urubuquaquá, no Pinhém e - Noites do sertão.)
- Grande Sertão: Veredas (1956), romance.
- Primeiras estórias (1962), contos.
- Tutaméia:Terceiras estórias (1967), contos.
- Estas estórias (1969), contos. Obra póstuma.
- Ave, palavra (1970) diversos. Obra póstuma.

Colaborações em jornais e revistas:- Colaborou no suplemento "Letras e Artes" de A Manhã (1953-54), em O Globo (1961) e na revista Pulso (1965-66), divulgando contos e poemas.



segunda-feira, 23 de junho de 2008

PLANETA TERRA - NOSSA MORADA


Após um domingo na praia com sol, àgua e observando por todos os sentidos a beleza deste Planeta Terra, a Gaia, às vezes, ou muitas vezes, tão maltratado, dei-me conta, mais uma vez que entre o Sol e a Lua, já aqui celebrada, há o planeta Terra e este não poderia deixar, em hipótese alguma esquecido, e coube então lançar fortes luzes para este plano na canção Estrelada, que me foi apresentada por um grande Amigo e que sempre vem à mente para revelar o quanto é essencial cuidar, com um carinho especial, desta nossa casa:


"És menina do astro sol, / És rainha do mundo mar / Teu luzeiro me faz cantar Terra, Terra és tão estrelada / O teu manto azul comanda / Respirar toda criação / E depois que a chuva molha / Arco-íris vem coroar / A floresta é teu vestido / E as nuvens, o teu colar / És tão linda, ó minha Terra / Consagrada em teu girar / Navegante das solidões / No espaço a nos levar Nave mãe e o nosso lar / Terra, Terra és tão delicada / Os teus homens não tem juízo / Esqueceram tão grande amor / Ofereces os teus tesouros / Mas ninguém dá o teu valor / Terra, Terra eu sou teu filho / Como as plantas e os animais / Só ao teu chão eu me entrego / Com amor, firmo tua paz." Estrelada - Milton Nascimento

sábado, 21 de junho de 2008

VIOLA E SEUS ENCANTOS E CANTOS

Se a gente prestasse mais atenção na nossa música brasileira, caia nos braços e na magia da viola, seja de um Almir Sater, de um Roberto Corrêa, de um Ivan Vilela, de um Pena Branca, de um Boldrin, de um Pereira da Viola, de um Renato Teixeira e por gente aí do mesmo naipe vai ficar encantado como eu fique, por isso um "pinicadinho" de Viola:

"Jogaram a viola no mundo / Mas fui lá no fundo buscar / Se eu tomo a viola Ponteio! / Meu canto não posso parar Não!...Quem me dera agora / Eu tivesse a viola / Prá cantar, prá cantar / Ponteio!... Ponteio - Edu Lobo

BARDOLATRIA


SIMPLEMENTE IMPRESCÍDIVEL, SHAKESPEARE É CADA VEZ MAIS FASCINANTE:

Segundo Bloom, a bardolatria, a devoção a Shakespeare, deveria tornar-se uma religião secular mais do que já o é. Isto porque, através de sua obra, Shakespeare não apenas representou, mas efetivamente inventou o homem. A capacidade de evolução por uma relação consigo mesmo, e não com Deus ou deuses, a habilidade em mergulhar na difícil e desafiadora viagem do autoconhecimento pela reflexão têm início na obra de Shakespeare.

A LUA


"O sol se foi sem pressa, Deixou o sol quase sem luz, Até que veio outra estrela, Brincar com meus olhos nus, Não soube a resposta certa, Assim meu coração me traduz, Meu coração de poeta, Guardei nem sei mais onde pus, A lua é uma porteira aberta, Planície de prata onde eu me perdi, Secreta foi a serenata,Saudade maltrata, Jamais te esqueci."

Planície de Prata, Almir Sater

CD: 7 Sinais

AINDA FERNANDO PESSOA, SEMPRE


O meu poeta predileto é Fernando Pessoa. Li Pessoa em dois momentos distintos. A primeira fase foi na adolescência, a segunda fase é na atualidade, quase todos os dias, com um novo olhar, mais maduro desvendando os mistérios por trás das palavras.

O SOL - ASTRO REI


"Todo dia o sol levanta a gente canta / Ao sol de todo dia / Fim da tarde a terra cora / E a gente chora Porque finda a tarde" Caetano Veloso

FERNANDO PESSOA - "O ESTRANHO ESTRANGEIRO"


"Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso“. Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça." Fernando Pessoa

MAR - ELEMENTO ÁGUA



"MAR


De todos os cantos do mundo / Amo com um amor mais forte e mais profundo / aquela praia extasiada e nua, / Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Cheiro a terras árvores e o vento / Que a Primavera enche de perfumes / Mas neles só quero e só procuro / A selvagem exalação das ondas / Subindo para os astros como um grito puro"


Autora: Sophia Mello B. Andresen