quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

NOEL ROSA - FEITIO DE ORAÇÃO -


NOEL ROSA veio ao mundo em 11 de dezembro de 1910, no Rio de Janeiro, RJ, há exatos 98 anos.

Noel aprendeu a tocar bandolim com sua mãe - era quando se sentia mais importante, lá no Colégio São Bento. Sentava-se para tocar, e todos os meninos e meninas paravam para ouvi-lo maravilhados. Com o tempo, adotou o violão, instrumento que seu pai tocava.

Franzino e debilitado desde muito cedo, dona Marta vivia preocupada com o filho, pedindo-lhe que não se demorasse na rua e que voltasse cedo para o lar. Tomando conhecimento, certa ocasião, que Noel iria à uma festa em um sábado, escondeu todas as suas roupas sociais. Quando seus amigos chegaram para apanhá-lo, Noel grita, de seu quarto: "Com que roupa?" - no mesmo instante a inspiração para seu primeiro grande sucesso, gravado para o carnaval de 1931, onde vendeu 15.000 discos!

Curso a faculdade de medicina mas a única coisa que isso lhe rendeu foi o samba "Coração" - ainda assim com erros anatômicos. O Brasil perdeu um médico, por outro lado foi contemplado com um dos maiores sambistas de todos os tempos.

A genialidade era latente, de cenas do cotidiano extraía até de desavenças motivo para composição dos sambas. Wilson Batista, também um grande sambista contemporâneo de Noel, havia composto um samba chamado "Lenço no Pescoço", um ode à malandragem, muito comum nos sambas da época. Noel, que nunca perdia a chance de brincar com um bom tema, escreveu em resposta "Rapaz Folgado"

(Deixa de arrastar o seu tamanco / Que tamanco nunca foi sandália / Tira do pescoço o lenço branco / Compra sapato e gravata / Joga fora esta navalha que te atrapalha).

Wilson Batista, contrariado, compôs "O Mocinho da Vila, criticando o compositor e seu bairro. Noel respondeu poeticamente, com a fantástica "Feitiço da Vila". A briga já era um sucesso, todo mundo acompanhando. Wilson retorna com "Conversa Fiada" (É conversa fiada / Dizerem que os sambas / Na Vila têm feitiço) . Foi a deixa para Noel compor um dos seus mais famosos e cantados sambas, "Palpite Infeliz". Wilson Batista, ao invés de reconhecer a derrota, fez o triste papel de compor "Frankstein da Vila" , sobre o defeito físico de Noel. Noel não respondeu. Wilson insistiu compondo "Terra de Cego". Noel encerra a polêmica usando a mesma melodia de Wilson nessa última música, compondo "Deixa de Ser Convencido".


Noel Rosa era tímido e recatado. Sem dinheiro, vivia às expensas de poucos trocados que recebia de suas composições e do auxílio de sua mãe. O dinheiro que ele ganhava era destinado com a romântica vida boemia, com as mulheres e com a bebida. Noel morreu no Rio de Janeiro, em 04 de maio de 1937, aos 26 anos, vitimado por um crônico pulmonar que resultou em Tuberculose.


No Samba FILOSOFIA: deixou eternizada a sentença que ainda se cumpre, lamentavelmente, pelos quadrantes desse país:


“Quanto a você / Da aristocracia / Que tem dinheiro / Mas não compra alegria / Há de viver eternamente / Sendo escrava desta gente / Que cultiva hipocrisia”


NOEL ROSA, PRESENTE!!!!!!!!!!!!

Assista ao recente filme baseado na vida do Sambista e Boêmio NOEL ROSA: NOEL, Poeta da Vila.


sábado, 6 de dezembro de 2008

ANTÔNIO CALLADO - CONTRA O ESQUECIMENTO: PRESENTE

Há uma advertência quanto temos um obra de Antônio Callado nas mãos, a saber: "Não basta ler o que ele escreve, é essencial observar COMO ele escreve." Tal frase foi pinçada na redação de um jornal por NÉLSON RODRIGUES e encontra-se em uma de suas crônicas / confissões presente em "ÓBVIO ULULANTE". Nós, brasileiros, temos um dívida eterna com esse homem que foi, além de magistral escritor, um dos nossos homens de resistência nos anos de conhecidos como de "Chumbo".
Antonio Carlos Callado nasceu em Niterói (RJ), no dia 26 de janeiro de 1917. Jornalista, romancista, biógrafo teatrólogo e bacharel em Direito, começou a trabalhar, como repórter e cronista, em O Correio da Manhã. (omissis) Aposentou-se como jornalista em 1975, mas continuou a colaborar na imprensa. Em abril de 1992 tornou-se colunista da Folha de S. Paulo. Além das atividades jornalísticas, dedicou-se sempre à literatura. Após seus dois primeiros romances, Assunção de Salviano (1954) e A madona de cedro (1957), nos quais persiste uma nítida preocupação religiosa a informar e até mesmo a condicionar o transcurso da aventura e a temática, Callado se encontra com os principais temas de sua obra através do jornalismo, e escreve livros de reportagem e obras literárias engajadas com as grandes questões de seu tempo. Entre os mais importantes, estão Quarup (1967), Bar Don Juan (1971), Reflexos do baile (1976), Sempreviva (1981), que apresentam um retrato do Brasil durante o regime militar, do ponto de vista dos opositores. Seu engajamento lhe custou duas prisões: uma em 1964, logo após o golpe militar, e outra em 1968, após o fechamento do Congresso com o AI-5.Teatrólogo, reuniu quatro de suas peças no volume A Revolta da Cachaça, em 1983. (omissis) Em 1958 recebeu, na Embaixada da Itália no Rio de Janeiro, a medalha da Ordem do Mérito da República Italiana. Em 1982 foi à Alemanha, como vencedor do Prêmio Goethe, do Goethe Institut do Rio de Janeiro, com o romance Sempreviva. Em setembro de 1985 recebeu, pelo conjunto de suas obras, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em outubro de 1985 recebeu, na Embaixada da França em Brasília, a Medalha das Artes e das Letras, das mãos do Ministro da Cultura Jack Lang; em maio de 1986, o prêmio Golfinho de Ouro, de Literatura, outorgado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro; em 1989, o troféu Juca Pato, da União Brasileira dos Escritores, por ter sido eleito “Intelectual do Ano”.Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 17 de março de 1994, Cadeira n. 8, na sucessão de Austregésilo de Athayde, foi recebido em 12 de julho de 1994 pelo acadêmico Antonio Houaiss.Era membro da The Corpus Association, do Corpus Christi College, Cambridge (Inglaterra). Faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 28 de janeiro de 1997.

Principais obras: Esqueleto na lagoa Verde, reportagem (1953); A assunção de Salviano, romance (1954); A cidade assassinada, teatro (1954); Frankel, teatro (1955);A madona de cedro, romance (1957); Retrato de Portinari, biografia (1957); Pedro Mico, teatro (1957); Colar de coral, teatro (1957);Os industriais da seca, reportagem (1960);O tesouro de Chica da Silva, teatro (1962); Forró no engenho cananéia, teatro (1964); Tempo de Arraes, reportagem (1965);Quarup, romance (1967); Vietnã do Norte, reportagem (1969); Bar Don Juan, romance (1971); Reflexos do baile, romance (1976); Sempreviva, romance (1981); A expedição Montaigne, romance (1982); A revolta da cachaça, teatro, reunião de 4 peças (1983); Entre o deus e a vasilha, reportagem (1985);Concerto carioca, romance (1985);Memórias de Aldenham House, romance (1989);O homem cordial e outras histórias, contos (1993).
"Texto extraído do livro “O homem cordial e outras histórias”, Editora Ática – São Paulo, 1993.)

MANOEL DE BARROS - POETA DE TIRAR O CHÁPEU

Crédito: http://oglobo.globo.com/fotos/2008/03/17/17_MHG_manoel.jpg


Atendendo a um especial e oportuno pedido de minha comadre virtual das Gerais, quero trazer esse Poeta Pantaneiro para o mundo da "rede virtual" e levar ele depois com cada leito pelo universo mágico e lúdico dos seus belos versos.


Trata-se de Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.

Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até terminar seu curso de Direito, em 1949. Como já foi dito, mais tarde tornou-se fazendeiro e assumiu de vez o Pantanal.

Seu primeiro livro foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou "Poemas concebidos sem pecado". Foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele.


Nos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros. Outros fizeram o mesmo: Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre eles. Os intelectuais iniciaram, através de tanta recomendação, o conhecimento dos poemas que a Editora Civilização Brasileira publicou, em quase a sua totalidade, sob o título de "Gramática expositiva do chão".

Hoje o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais originais do século e mais importantes do Brasil. Guimarães Rosa, que fez a maior revolução na prosa brasileira, comparou os textos de Manoel a um "doce de coco". Foi também comparado a São Francisco de Assis pelo filólogo Antonio Houaiss, "na humildade diante das coisas. (...) Sob a aparência surrealista, a poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade.

O diretor Pedro Cezar filmou "Só dez por cento é mentira", um documentário sobre a vida do poeta que lançado no primeiro semestre de 2007. O título do filme refere-se a uma frase de Manoel de Barros: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira".

Um homem catava pregos no chão. / Sempre os encontrava deitados de comprido, ou de lado, / ou de joelhos no chão. / Nunca de ponta. / Assim eles não furam mais - o homem pensava. / Eles não exercem mais a função de pregar. / São patrimônios inúteis da humanidade. / Ganharam o privilégio do abandono. / O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados. / Acho que essa tarefa lhe dava algum estado. / Estado de pessoas que se enfeitam a trapos. / Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser. / Garante a soberania de Ser mais do que Ter.
"O CATADOR - Tratado geral das grandezas do ínfimo, Editora Record - 2001, pág. 43.)